Transtorno de Personalidade

Os transtornos de personalidade são caracterizados por padrões disfuncionais de funcionamento interpessoal, estilos cognitivos, afetividade e controle de impulsos. Esses padrões se manifestam de forma inflexível, resultando em dificuldades significativas para o indivíduo e para as pessoas ao seu redor, especialmente em contextos sociais. Desde a adolescência, esses traços disfuncionais tornam-se mais evidentes, influenciando negativamente a capacidade do indivíduo de se adaptar dinamicamente ao ambiente.

A 11ª edição da Classificação Internacional das Doenças (CID-11) propôs mudanças importantes na nosologia dos transtornos de personalidade, substituindo o modelo categorial por um dimensional, onde o diagnóstico é feito com base na gravidade do transtorno (leve, moderado ou severo) e nos traços mal adaptativos da personalidade, como afetividade negativa, anancasticismo, antagonismo, desinibição e distanciamento.

A prevalência dos transtornos de personalidade gira em torno de 10% na população geral, mas pode atingir um terço em populações psiquiátricas. Entre os fatores de risco estão pobreza, problemas de apego, histórico de abuso e negligência na infância. Esses transtornos geralmente se manifestam na adolescência ou início da vida adulta, exacerbando-se em situações estressoras. Comorbidades com outros transtornos mentais são comuns, o que aumenta a complexidade do diagnóstico e tratamento.

Os transtornos de personalidade são divididos em três clusters no DSM-5, cada um com características específicas: Cluster A (comportamentos excêntricos ou estranhos), Cluster B (comportamentos dramáticos, impulsivos ou erráticos) e Cluster C (comportamentos ansiosos ou temerosos). Cada cluster inclui diferentes tipos de transtornos de personalidade, como transtorno paranoide, esquizoide e esquizotípico no Cluster A; antissocial, borderline, histriônico e narcisista no Cluster B; e evitativo, dependente e obsessivo-compulsivo no Cluster C.

O diagnóstico de transtorno de personalidade é clínico, baseado na observação dos padrões de comportamento ao longo do tempo e nas respostas desadaptativas a estressores. É essencial diferenciar esses transtornos de condições médicas que podem causar alterações na personalidade, como doenças neurológicas, além de outras doenças mentais que podem apresentar sintomas similares.

O tratamento dos transtornos de personalidade envolve psicoeducação, estabelecimento de uma relação terapêutica forte e confiável, um plano de tratamento estruturado, cuidado com a polifarmácia e foco na reabilitação funcional do paciente. A psicoterapia é a primeira linha de tratamento, com abordagens como a Terapia Comportamental Dialética (TCD), a Terapia Baseada na Mentalização (TBM) e a Psicoterapia Focada na Transferência (PFT), especialmente eficazes no tratamento do transtorno de personalidade borderline.

O prognóstico varia de acordo com o tipo específico de transtorno de personalidade, com alguns pacientes mostrando melhora significativa ao longo do tempo, enquanto outros permanecem com dificuldades funcionais crônicas. Encaminhamentos para especialistas em saúde mental são frequentemente necessários, especialmente em casos graves ou com comorbidades significativas.